
- É intransponível! - Disse ele.
- É... - Ela concordou.
Ele não queria admitir, não queria crer, não queria desistir.
E todas as tardes que passaram juntos ao som de Amos Lee deitados naquela rede que já cheirava a hidratante de manga?
Era o cheiro dela, de seus cabelos sempre limpos. E ele gostava daquilo.
- Eu queria quebrar essa parede com uma marreta. - Ele estava nervoso.
- Se você fizer isso, vai me cortar com os estilhaços, vai se cortar também... - Ela sempre tinha que ponderar tudo.
NÃO PODERIAM FICAR JUNTOS.
E todas as noites de chuva fina regadas à vinho? E os discos de vinil que eram tratados por ambos como relíquias? E como ficaria a grande e confortável cama vintage que sempre os abrigou com maestria?
A cama ficaria vazia, o bule antigo não mais faria aquele forte café matinal, os discos e cds ficariam empoeirados... A rede não mais balançaria.
- Vou quebrar essa parede. - Disse ele batendo com força.
- Não, apenas me beije, mas não sinta meu sabor... É melhor, pra não aguçar a saudade.
Ele a beijou, nada sentiu, senão o gosto oco do vidro, mas imaginou como seria apertar seus lábios junto aos doces lábios dela.
ELE FOI EMBORA. ELA FICOU.
E A PAREDE FICARÁ LÁ. PARA SEMPRE.